No shopping Boulevard Tatuapé, um homem magro, cabelos grisalhos aos lados, calvo no topo da cabeça, uns cinquenta anos, pára ao lado do banco entre duas lojas, põe sobre a lixeira uma bolsa preta donde vazam latas de Coca-Cola amassadas, tira lá de dentro uma garrafa e passa a oferecer a tipo todo mundo: “Quer uísque?”. E vira um gole. Fala alto, aponta para funcionários nos quiosques e dentro dos estabelecimentos: “Quer uísque?”. Um rapaz uniformizado vê que é com ele e faz que não. “Você bebe uísque?”, o homem pergunta. “Se eu bebo uísque?”, diz, com uma cara de ‘como não?’, e aí responde, “bebo”, aquele toque de orgulho no olhar. “Já entendi”, o homem fala bem alto mesmo, “não bebe no trabalho”, e repreende, “isso aqui não é igreja evangélica não. Isso aqui é MUNDÃO. Nós tamo no MUNDO. Eu tô no MUNDO”. Mas pra além de uísque outra coisa que ele estava informando toda gente era: “Comprei um Fusca verde! Todo personalizado”. A história é meio paradoxal nesse ponto. “Sabe onde eu tava?”, questiona ele ao mesmo rapaz que não tá no mundão, “no shopping Anália Franco. Ganhei um BMW. Branco! E vou comprar um Fusca verde. Personalizado!”. E surpreendentemente: “Vou morar no Anália Franco! Muita treta, muita confusão”. Tenta guardar as coisas dele no quiosque de perfume, as meninas não deixam porque tem o uísque. Então ele vai embora. Sai agitando um hangloose no ar, despedindo-se das massas, a mão bem no alto, ninguém nem olhando. Pára num quiosque lá na frente, faz uma cara de cumplicidade e interpela um menino: “Comprar um Fusca verde pá nois?”.

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