Artaud denuncia a arte que não tem fundação na vida do corpo. Por isso, demanda que haja um grau de fecalidade na literatura, no teatro (são suas áreas de ação). Você entendeu bem: fecal de bosta mesmo. Não obstante, Artaud tem em mente qualquer secreção, todas elas testemunhas da vida anônima (uso a expressão de Merleau-Ponty) que fomenta o “caniço pensante”. Urina e sangue, ranho e esperma – produzimos tudo isso; Artaud nos estipula um texto literário que dê mostras da fábrica que somos: cera e suor e pus entre as palavras. Que o artista se efetive na obra com o que é, com tudo o que tem – toda purificação aí seria falseamento. Este texto gruda. Cheira. Escorre. Pulsa. Eu vivo – por trás? Nele.