Uma afinidade entre Michel Foucault e Guimarães Rosa? O escritor, em Grande Sertão: Veredas, pela voz do seu protagonista, afirma que “viver é muito perigoso” e “o diabo não há! existe é o homem humano”. O filósofo, em certa entrevista, explicou que o seu “ponto não é que tudo é ruim, mas que tudo é perigoso”. A inexistência do diabo em Guimarães aponta a uma inexistência (agostiniana?) do mal; e esse “não é que é tudo ruim” (ou seja, não é que tudo seja “prisão”, “opressão”, “controle”) do lado de Foucault igualmente não crê em algo perene e coeso que nos acue. Ambos tratam do perigo, risco e indeterminação constantes de toda prática. E se o herdeiro de Nietzsche se dedica à movimentação da história, sua sucessão de formas conflitantes de pensamento e ética — mundos distintos, praticamente — , o diplomata que se educou com os sertanejos fecha seu livro com a palavra “travessia”. Devir, lá e cá.
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