Interiores | Olhe ao redor: o processo de Arcangelo Ianelli

Crítica Cultural

Interiores é uma série feita para o Itaú Cultural com base em obras do acervo de arte dessa instituição. Texto originalmente publicado no site do IC.

“Ateliê do Artista”,
de Arcangelo Ianelli

Ateliê do Artista tem cadeira, piano, cavalete, quadros, potes. Uma janela na lateral o abre ao mundo. O Ateliê do Artista tem vários tons de marrom e azul, entre outras cores. Observar essa tela de Arcangelo Ianello pode ser esse passeio entre detalhes, percebendo alguns itens e relações. Uma experiência assim não seria tão diferente daquela que está na origem dos quadros de Ianelli: “Em grupos de artistas, tomávamos o bonde na Praça da Sé e íamos aos arredores de São Paulo”, conta ele, “então, a gente observava na natureza, por exemplo, o verde. Mas o verde tem tantas nuances, tantas diferenças de um para outro [tom]”.

Não é a natureza, os arredores de São Paulo, o foco de Ateliê do Artista. Talvez seja possível, no entanto, pensar que, para captar as características desse local de trabalho e de convívio, o artista também tenha se dedicado a acompanhar todas as multiplicidades. Em época de isolamento social, podemos explorar esse mesmo deslocamento: se não lá fora, quantos verdes você vê na sua sala, no seu quarto? Quantas nuances e diferenças nos objetos ao redor?

Reparando nas nossas escolhas de observador, podemos voltar a Ateliê do Artista com olhar renovado. O que Ianelli recortou do que viu? Como fala a Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, no processo de criação desse artista, “as pinturas têm origem em um estudo” – ele seria como um escritor que faz anotações para depois redigir.

Essa postura marca os períodos da sua produção: “Em sua fase figurativa, além de observar a cor, Ianelli se vale de uma importante lição do pintor Angelo Simeone, que defende ser mais importante a interpretação do pintor no quadro do que a reprodução fiel da cena ou do objeto retratado. Ao aderir ao abstracionismo, experimenta primeiro uma fase ligada à matéria e, em seguida, dedica-se cada vez mais à pesquisa da cor e de suas vibrações”.

Arcangelo Ianelli, como indicado, é um pintor que na sua carreira transitou de trabalhos mais focados na representação do que é visto – no início da década de 1940, fez pinturas realistas – para explorações mais centradas na forma – entre o fim dessa década e o início da de 1950, passando a se interessar por arte construtiva; em 1957, diz a Enciclopédia, “a tendência à simplificação formal se aprofunda”, e ele “reduz sua paleta de cores e se concentra em formas lineares e bem contornadas”. Saiba mais sobre o artista e veja outras obras no verbete completo.

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