“Foucault, Deleuze, and the Ethics of Digital Networks” [Foucault, Deleuze e a Ética das Redes Digitais], Bernd Frohmann

Pesquisa

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Bernd Frohmann procura construir um debate sobre ética e internet para além de um modelo de causa e efeito, isto é, distinta de perspectivas que isolando uma tecnologia, a internet, como causa, questiona quais efeitos pode ter sobre locais, sociedade e indivíduos.

Para tal, de saída, ele nota que essa forma de pensamento precisa fixar os sentidos de “internet” e dos objetos aos quais os seus significados se aplicam. Lembrando Bruno Latour, ele aponta que é preciso a mobilização de uma variedade de elementos para que se constitua algo – para construir um fato científico, nota Latour, é necessária a conjunção de diversos atores, cientistas, laboratórios, órgãos de financiamento, substâncias – assim, no nosso tema, tanto a causa, a internet, quanto o efeito, uma localidade, por exemplo, são não blocos sólidos, unívoco, mas esses maquinários plurais. Dessa forma:

Problems arise from an ethical perspective because often the ethical challenge is precisely to the kinds of stabilizations, stratifications, and segmentations achieved. […] Ethical challenges are in general handicapped when the labor involved in the construction of strata and segments is occluded, but knowledge about the contigency of phenomena and the manner in which they are constructed can open ethical thought to new possibilities

Frohmann, após essa complexificação, encontra um outro meio de pensar essa temática em Gilles Deleuze. Em vez de pensar em efeitos, propõe, com o filósofo, que se pense em afetos, ou seja, em sentido deleuzano (desenvolvido a partir de Espinoza), na capacidade de afetar e de ser afetado. Nesse ponto de vista, a questão ética se concentra naquilo que aumenta ou diminui a potência de ação de um corpo. Esse direcionamento renova a interrogação sobre a internet:

From the perspective of affects, the question is not, for example, about the effects of the Internet on a person, group, institution, nation, or place (locality), but about the intensities generated by digitally mediated connections between bodies that make it possible for bodies to change, mutate, and become capable of new actions in new assemblages.

Retornando então à tarefa de reatribuir complexidade a categorias solidificadas, o autor se refere a Doreen Massey, que pensa o espaço como “intersecções de eventos”, situações em uma rede de relações que abrange o local e o global, e a Richard Drayton, que demonstra ter havido, no intercâmbio científico e comercial de espécies vegetais no século XVIII, fluxos econômicos, políticos e simbólicos de intensidade análoga aos fluxos digitais do presente, embora não tão velozes.

Por fim, Frohmann descreve o pensamento de Michel Foucault, no que tange à sua “ontologia histórica de nós mesmos”, em outras palavras, seu estudo do que constitui historicamente nosso saber, os poderes que nos afetam e nossa subjetividade, e ressalta que o filósofo, exibindo a circunstancialidade das estruturas que se transformam com o passar do tempo, deixa em aberto a possibilidade de algo novo. Isso também põe outras luzes sobre a web:

From the perspective of the Foucauldian task of freedom, which involves finding the contingency of what is given as universal, investigations of the role of digital networks would not seek knowledge of the regularities of cause and effect but rather what is contingent and singular in them, that is, in what is not embedded in scientific truth. Pursuing such singularities instead of causal regularities could open thought to questioning digital networks as technologies of the self in the nexus of its relationships to other from the perspective of an ethos of freedom seeking to create a new culture and new relations of the self to itself rather than the truth of how digital networks in their current historical configurations affect individuals and groups.

Além disso, ainda em viés foucaultiano, o pesquisador questiona como essas novas tecnologias nos forma como sujeitos, e faz alusão a processos informacionais que funcionam “sozinhos” e que têm impacto sobre o mundo (tema tratado mais longamente em “Subjectivity and Information Ethics“).

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