Essa postagem foi considerada caduca, isto é, penso que demanda outras abordagens ou outra formulação. Quando isso for feito, será avisado aqui. Permanece acessível como histórico. [17/8/2020]

Às vezes, um comentário paralelo em meio à argumentação a favor de uma tese prejudica toda a tentativa. O episódio do termo “ditabranda” em um artigo da Folha de S.Paulo ano passado é prova disso — a alusão ao regime nem era mesmo necessária ao propósito geral do texto, mas eclipsou qualquer que fosse a ideia central dele e acarretou vários protestos contra o jornal. Creio que o editorial de 12/2 do Estadão erra pelo mesmo motivo.

É um artigo sobre a exoneração do general Maynard Marques de Santa Rosa do exército, por ter cometido uma indisciplina segundo as regras militares. Lá pelas tantas, o editorial comenta que o incidente é um “mais um subproduto do 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos”, e, no que lista as propostas do PNDH, diz:
“(…) o decreto postula a proibição da exibição de símbolos religiosos nos espaços públicos, a exigência de “audiência coletiva” prévia às concessões de liminares de reintegração de posse, o controle da imprensa por uma comissão governamental encarregada de colocar os veículos de comunicação num “ranking” de obediência aos “direitos humanos”, a descriminalização do aborto, o casamento de homossexuais, a exigência de aprovação de comissões sindicais para as licenças ambientais – e outras extravagâncias. Essas ideias estapafúrdias foram geradas em um dos “fóruns sociais” com os quais certos setores do petismo radical pretendem implantar uma forma de democracia direta no País (…)” [grifos nossos]

Então, temos, em um estado laico, alguém dizendo que a proibição de símbolos religiosos em lugares públicos é uma “extravagância”. E que a descriminalização do aborto e o casamento de homossexuais (igualdade de todos perante a lei, onde?) são “ideias estapafúrdias”. 

Todo o parágrafo em que essas coisas são ditas é um tipo de digressão, não necessário para argumentar a favor da tese, que parece ser resumida nas últimas linhas: “a atual geração de militares está plenamente consciente do papel que as Forças Armadas exercem numa democracia. Atitudes como a do general Santa Rosa são pessoais e excepcionais”. O que foi isso? Um ataque do governo que caiu no exagero? Uso impensado das palavras?

E, depois, por que esse editorial não gerou qualquer protesto na blogosfera?

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