Menina canta na fila do ônibus. Tem o olhar perdido enquanto entoa o verso (só um verbo, algo como “espera… espera…”). Talvez por se perceber observada, diz às amigas em torno:

— Tô sofrendo.

Como quem apenas se surpreende com um acaso, sem dor nenhuma. As colegas riem. Talvez para deixar claro que não há fraqueza envolvida, ela acrescenta logo depois:

— Sofrendo por ninguém.

Uma amiga comenta:

— É o pior tipo de sofrência, sofrer por ninguém.

A outra também:

— Pagode estraga tudo.

 

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