*ker- está entre livro de poesia e experiência de linguagem. Desde o título – um termo hipotético que estaria na raiz protoindo-europeia de palavras como “criação” – até a sua estrutura, definida a partir de uma introspecção sobre o que significa criar, passando pela pluralidade de formas inventadas para dar conta de diferentes relações com o ato de escrever, o livro cumpre uma viagem marcada pelos contatos com a alegria, a saudade, a morte, a obstinação, a filosofia e outros afetos.
Orelha
Duanne Ribeiro propõe este livro como uma espécie de viagem, travessia cujo ponto de partida é um mínimo possível de criação, um nível zero da relação com a poética: o que está no antes de escrever este livro? A partir dessa vontade de Éden, o autor caminha (e, assim, faz seu caminho, como ensinou outro poeta) por graus sucessivos de invenção, até alcançar algo que soe como completude. Nessa pequena epopeia, cria ou mobiliza formas variadas de poesia, esboça a arte como forma de vida e se encontra consigo mesmo e com os afetos que acaba depondo ao leitor: alegria, morte, filosofia, saudade, sonho. Etc.
foi esse menino quem escreveu meu livro, não eu — eu nasci depois
esse menino, não, não eu, viveu o livro, esse menino, antes que eu fosse, antes que eu fosso esse menino, veja, ele sorri, impune, com essa espada e essa armadura de plástico, ninja vermelho, sim, ele será derrotado o suficiente para que existamos ele sorri, intacto, naturalmente, pois quem antes do livro? não eu quem antes do mundo? não eu quem antes da verdade? eu
não, eu nasci depois eu sou tantos meninos mortos.
“O que se pode, a princípio, apontar na poesia de Duanne Ribeiro é a sua genuinidade, além da simplicidade. Mas, por trás da simplicidade, o que se esconde é um vasto conhecimento dos meandros da arte poética”