São cinco bancos, ela está na janela, eu na outra ponta, uma mulher no banco do meio, ela abre a bolsa e percebe que em vez do celular pegou o controle remoto. Seu modo de falar tem a sonoridade nordestina típica, sua pele é escura (não sei se por origem negra ou indígena). Ou sente […]
Bem-te-vi que come carne
“Aqui é bom, né?”, diz este senhor parecido com o cientista do De Volta para o Futuro, se referindo ao banco de praça ao lado do ponto de ônibus e em frente às árvores e o gramado extenso. “Caralho”, exclama, do nada. Senta meio de lado, olha a distância. “Você está aqui há muito tempo?” […]
Por que você não é feliz?
Falava sozinha, encostada à porta do metrô. Encarnava um personagem autoritário, antipático e prepotente, um psicólogo que “estudou muito antes de abrir a boquinha”, que tagarelava sobre eficiência, “missão”, “honraria”, “servir à nação”. O psicólogo disse: “A minha aula foi ruim? Ou foi perfeita?”. O psicólogo disse: “A minha aula foi errada ou foi certíssima?”. […]
Juraci, e o seu?
“O que é esse livro aí, antropologia, psicologia?”, diz o senhor que senta ao meu lado no ônibus; eu respondo: “Filosofia”. Ele: “Ah! Filosofia. Eu tenho mais de cem livros de filosofia. Sabe qual foi o maior filósofo? Não foi Sócrates, nem Platão, nem Aristóteles, nem Diógenes” — e me mostra uma edição de “Ecce […]
Linchamentos Segundo a Sociologia
Publiquei no Observatório de Imprensa o artigo Para compreender os linchamentos, um texto que apresenta as análises do sociólogo José se Souza Martins a respeito dos linchamentos, com base em uma pesquisa que abrange séculos da história brasileira. Eu escrevi: Martins interpreta os linchamentos como “a ponta visível de processos sociais e da estrutura social”, sintomas de […]
É Preciso Dizer: me Orgulho
Publiquei no Digestivo Cultural a crônica Margarida e Antônio, Sueli e Israel, um texto sobre memória, trabalho, política e origens, histórias do meu avô Antônio, minha avó Margarida, meu pai Israel e minha mãe Sueli (a foto que ilustra este post é um quadro da minha avó). Eu escrevi: Eu acho, pelo contrário, que é preciso saber dizer: me […]
Fins de Ano
Publiquei no Digestivo Cultural a crítica/crônica/artigo Texto Otimista de Fim de Ano, sobre Marcel Proust, Jim Carrey, Woody Allen, jornalismo — e fins de ano. Eu escrevi: Em alguns momentos, o jornalismo atinge o nível do arquétipo: nas notícias que não são notícias, que apenas confirmam o mundo. Cumprimos o ano e lá estão as pessoas (as […]
Protestos de Junho
Publiquei no Digestivo Cultural o artigo Notas Obsoletas Sobre os Protestos, reações pontuais sobre os protestos de junho, mescla de não-ficção, filosofia e insights variados. Eu escrevi: Na noite de 13 de junho, tive a impressão clara do que é viver sob uma ditadura, a exatidão de um símbolo: a Avenida Paulista varrida pela fileira compacta da […]
Saia de Saia
Publiquei no Digestivo Cultural o artigo Pô, Gostei da Sua Saia, sobre a manifestação Saia de Saia, sobre costumes e questões de gênero. Eu escrevi: Espécie de flashmob sobre questões de gênero, o USP de Saia nos agregou todos à mesma manifestação. A ideia surgiu após um aluno, que costumava ir de saia ao campus, ter […]
Julinho, o Rato
Publiquei no Digestivo Cultural a crônica Diário de Rato, Chocolate em Pó e Cal Virgem. Eu escrevi: Erguemos as barricadas: é preciso isolá-lo. Uma placa de madeira serve de bloqueio para a saída da cozinha à sala. Um tijolo tampa o buraco no canto direito inferior da porta fechada do banheiro. Onde ele pode estar? No fogão. […]