[Almas Mortas, Nikolai Gogol, páginas 402-408, Nova Cultural, 2003] A Folha noticiou: “A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, anunciou que a empresa está estudando criar uma nova diretoria, para assegurar o ‘cumprimento de leis e regulamentos internos e externos’”.
A medida me lembrou um trecho de Almas Mortas, de Nikolai Gogol. O protagonista, Tchítchicov, encontra um fazendeiro, Kochkariov, que pretende uma “organização correta e racional da economia rural” e para isso elabora uma estrutura burocrática que acredita infalível. Porém, Tchítchicov descobre, “o Escritório de Recepção de Relatórios e Petições existia só no letreiro, e a porta estava fechada. O seu diretor, Khruliov, tinha sido transferido para a recém-criada Comissão de Construções Rurais. No seu lugar ficara o mordomo Berezóvski; mas também ele tinha sido despachado pela Comissão de Construções. Encaminharam-se então para o Departamento de Assunto Rurais, que encontraram em reforma: acordaram um bêbado que lá se encontrava, mas não conseguiram dele nenhuma informação”. Quer dizer: as coisas tinham degringolado. Kochkariov, então, antecipa Maria das Graças: “Era necessário repreender e sacudir a todos, pois do contrário tudo era capaz de adormecer e as molas da administração podiam enferrujar e enfraquecer; que, em consequência do acontecido, viera-lhe à cabeça uma ideia feliz: criar uma nova comissão, que se chamaria Comissão de Controle da Comissão de Construções, de maneira que dali para diante ninguém mais se atreveria a roubar”.