Há, contudo, uma rota pela ternura. As ideias que encenei em Artaud remetem ao ultraje, ao escândalo, no limite a uma erótica – contudo existe uma vivência afim a elas que depende mais da delicadeza e do trabalho. É essa o cuidado com o outro que não pode cuidar de si. O outro que não aprendeu a esquecer que é corpo ou o outro de quem o corpo se esquece de mimar a alma. Nós, se responsáveis por um idoso acamado – como minha avó foi do meu avô e minha mãe foi da minha avó – ou por um bebê ou por um animal de estimação – como sou eu – sabemos como é. Secreções, Artaud? Minha roupa exala baba e gorfo de leite materno. Fecalidade? Eu já puxei pra fora cocô agarrado no cu da cachorrinha pelo cabelo que ela comeu. E já fui alvejado de canhão-neném: levantei a bundinha, armei a mira; um jato amarelo-marrom veio em arco ao meu peito. O além do nojo e do choque, a calma operária que aprendemos então, secretam utopias.

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