Morreu nesta sexta o jornalista José Paulo de Andrade, que atuou na rádio Bandeirantes durante 57 anos, tendo sido apresentador do O Pulo do Gato. É por conta desse programa que relembro José Paulo aqui no blog. A vinheta de O Pulo do Gato é para mim uma madeleine jornalística, faz voltar o período antes de ir à escola. É por tudo isso que descrevo em certa parte do As Esferas do Dragão o seguinte:
A manhã era uma conversa com os passarinhos: comiam alpiste das mãos dela como se encarnasse um verso de Manoel de Barros. Céu nublado cor-de-chifre e a voz de José Paulo de Andrade no rádio.
E depois:
“Acorda, São Paulo, do seu sono justo: é hora do Pulo do Gato.” O rádio badalava as seis horas da manhã. O sol não havia ainda nascido e o céu era um azul minguante.
Conversando com amigos, essa mesma experiência foi evocada; crianças nessa época, José Paulo era uma espécie de pano de fundo, interesses de adulto. Sobretudo, O Pulo do Gato marcava o tempo — com a institucionalidade, com a precisão dos sinos — inscritos nessa descrição do fim da madrugada.