O pessoal capturou um ladrão hoje na estação Santana. Eu tinha acabado de passar pela catraca do metrô, estava no corredor das várias escadas que levam ao terminal de ônibus e vieram correndo um ou dois gritos de “ladrão!”; cerca de cinco pessoas perseguiam um homem de uns 30 anos, branco, cabelo curto com gel, camisa de botão branca com linhas verticais pretas, calça e sapatos sociais. Conseguiram segurá-lo na plataforma, os curiosos ou olhavam de longe esticando o pescoço como suricates ou subiam às pressas para ver de perto. Dois homens o prendiam: um, as pernas; outro, no mata-leão. Uma mulher tentava pegar algo nas calças dele enquanto ele se debatia; ela ordenou, “chão!”, ao mesmo tempo em que os outros dois já faziam isso. Foi imobilizado contra o piso: aquele segundo homem pressionava seu pescoço, os olhos estavam estatelados, o rosto vermelho, afogado — achei significativo que as mãos escaparam do pescoço para a face, mas não ficaram nela, não a atacaram: é o sinal do mínimo de civilidade mesmo em um caso assim. Simultaneamente a mulher lhe dava dois chutes. Acharam a faca com que ele tinha assaltado um menino; me pareceu uma arma profissional, a lâmina dentada, de um prateado limpo, com algo menos que quinze centímetros; o rapaz roubado parecia gay pelo jeito de falar, o que levou o homem do mata-leão a apontar o que seria a covardia do seu prisioneiro: “Gosta de bater em viado, é?”. Mesmo rendido, o delinquente ameaçava, “vou apagar todos vocês”, porém lhe respondiam ainda bélicos mas também serenos, “fica na moral”. Chegou uma senhorinha atrasada, cabelo em coque: “Pra que agressão? Pra que agressão?”. Um cara de meia idade, a três metros de distância do conflito e em segurança, comentou: “Não tem de chamar a polícia não, tem de bater”. Liguei três vezes para o 190 e só fui atendido pela secretária eletrônica; contudo a PM chegou logo depois.