“Por causa de quatro e trinta deram um mata-leão na mulher, humilharam a mulher?”, era retórica a pergunta, o homem só enfatizava a revolta. Tinha uns cinquenta anos, branco, a pele do rosto bem esburacada. Estava junto do filho e ambos estavam vestidos no estilo hip hop. “Eu falei: vai pegar a mulher, pega eu, eu quebro vocês três”. Desde a República antes de vir o trem ele já contava essa história; repetiu várias vezes dali até o Belém, onde desceu, para uns quatro sujeitos diferentes. Ele tinha gravado tudo. “O governo rouba pra caralho e ninguém é preso. Agora, por causa de quatro e trinta…”. O filho teve uma hora que quis se enturmar, fez também o desafio aos seguranças imaginários: “Vem pra cima de mim, quebrada”. O pai riu, talvez só com um pouco de descrença que o rapaz desse conta mesmo: “É o meu filhote: tô treinando ele”, explicou, divertido. Não muito depois voltava ao seu leitmotiv: “A amiga dela pagou, aí ela pulou. Os caras foram em cima dela direto. Dois homens numa mulher. Falei: vou pra delegacia, mas dois de vocês eu levo pro hospital”. Em alguma festa de igreja, ele teria derrubado três sozinho; agora seria igual. Demonstrou na sequência que além do mais eram dois pesos e duas medidas: “E quando é a torcida do Palmeiras, do Corinthians, que os caras pulam catraca e eles não fazem nada?”. Um sujeito do meu lado comenta: “É verdade, vêm cem caras na muvuca e pulam a catraca”, ainda mais, “cantam de pé na cadeira, os caras são louco”. O outro continuava: “Os skatistas pulam catraca, ninguém faz nada. Podia ir pra delegacia, mas dois eu levava pro hospital”. E com algum cansaço: “Por isso que eu preferia morar nos Estados Unidos”, meu amigo, que diferença faria isso? Ele dá o veredicto: “O Brasil é um lixo. A gente fica indignado”.