A palavra inaugural do Eros me parece ter sido “El”, dita com um L bem acentuado (dobre bem a língua para trás, toque o céu da boca), com o E mais ou menos longo e com um tom decrescente (o que, tudo indica, compõe seu significado – Rousseau não disse que as línguas originárias eram também música?). O mundo já depositou coisas nesse som antes. O espanhol fez de “el” um artigo e de “él” um pronome; essa vogal e essa consoante receberam assim onipresença. Já o hebraico produz com essa partícula nomes próprios com o atributo “de Deus”: Rafael = “cura de Deus”. El, que na Bíblia se tornou somente Javé, todavia era o nome do deus supremo em Canaã, fora outros usos. Em Kripton, por sua vez, “el” marca a linhagem nobre à qual se filia o Super-Homem. Eros – pegando fruta do pé de arquétipo – expressou tudo isso de uma vez? Se não, o que escolheu para caber nessa palavra tão vivida? Será um adjetivo ou um substantivo? Designará minha cara de bobo ou a paz de ter soltado os devidos cocô-puns ou a definição do Bem inscrita nos olhos da mãe? Atenção: os mistérios são alvos móveis. Enquanto brincamos de semântica, Eros se povoou de outra língua-palavra: “Agu”. Agu?! Com o U longo. Ora, filho. Agu pra você também.

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