[adaptado da seção 1.1 da dissertação de mestrado A Criatividade do Excesso: Historicidade, Conceito e Produtividade da Sobrecarga da Informação, disponível aqui]

O filósofo Rafael Capurro, em “The Concept of Information“, remonta as origens da palavra “informação” à Antiguidade: desde antes da Era Comum, encontramos vestígios seus — o poeta romano Virgílio, por exemplo, usava os termos informatio e informo. Tendo tido uma primeira aplicação no contexto da cerâmica, as palavras estão no campo semântico de “dar forma” a algo. Ganhariam a partir desse contexto inicial uma série de usos mais abstratos: entendimentos biológicos (dizia-se que o feto era “informado” por cabeça e tronco); pedagógicos e morais (Moisés foi descrito como populi informator, pois educava e moldava o povo); epistemológicos (a impressão dos sentidos sobre a nossa cognição e a recuperação mental de representações); e ontológicos (a matéria em estado de potência vinha à atualidade pela aplicação a si de uma forma). Essas abordagens desse conceito atravessam um grande número de autores, entre os citados no texto em pauta estão Cícero, Agostinho e Tomás de Aquino, que trabalham com os materiais herdados dos filósofos Platão e Aristóteles. Ou seja, percorrem um debate que vai dos gregos clássicos à escolástica.

Os sentidos epistemológicos e pedagógicos, ainda segundo Capurro, prevalecem a partir de então, notadamente nas línguas alemã e inglesa. As correntes filosóficas da Idade Moderna que despontava abandonaram os pressupostos metafísicos das instituições medievais. Descartes é um dos sinais dessa transformação, como se lê neste trecho:

Essa transição da Idade Média para a Modernidade no uso do conceito de informação — de “dar uma forma (substancial) à matéria” para “comunicar algo a alguém” — pode ser detectada na filosofia natural de René Descartes (1596-1650), que chama ideias de “formas de pensamento” não no sentido de que são “figuradas” (“depictae”) em alguma parte do cérebro, mas “na medida em que informam o espírito que se direciona a essa parte do cérebro”.

De acordo com o historiador da mídia John Durham Peters, citado por Capurro, uma transição similar vê-se no empirismo, âmbito no qual a palavra

Informação foi prontamente mobilizada pela filosofia empirista (embora tenha tido um papel menos importante que outras palavras como impressão e ideia) porque parecia descrever as mecânicas da sensação: objetos no mundo in-formam os sentidos. […] a problemática empirista era como a mente é informada pelas sensações do mundo. A princípio, informado significava formado por; depois passou a significar receber relatos de. Conforme a sua área de ação mudou do cosmos para a consciência, o sentido do termo mudou, se deslocou das unicidades (as formas aristotélicas) para as unidades (da sensação). Informação passou a se referir menos e menos a uma ordenação ou formação interna, na medida em que o empirismo não aceitava formas intelectuais pré-existentes, para além da sensação em si. Em vez disso, informação passou a se referir ao material fragmentário, flutuante, desordenado dos sentidos.

Vemos na citação acima que “impressão” e “ideia” se tornam conceitos de maior relevância ao pensamento teórico da época; Capurro ressalta que “informação” perde nesse processo o seu caráter de alto nível, posição que só reencontraria no século XX. Essa retomada de status se dá com o desenvolvimento da teoria da informação de Claude Shannon (1940-2001).

Referências Bibliográficas

CAPURRO, Rafael. The Concept of Information. Annual Review of Information Science and Technology, v. 37, cap. 8, p. 343-411, 2003. Disponível em: http://www.capurro.de/infoconcept.html.

PETERS, J. D. (1988). Information: Notes toward a critical history. Journal of Communication Inquiry, 12, 10-24.

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