O tema da information avoidance — da seletividade informacional que constrói realidades ao gosto do freguês —, foi recentemente foi tratado em uma matéria da Universidade Carnegie Mellon, que afirma:
[…] people have a wide range of other information-avoidance strategies at their disposal. They also are remarkably adept at selectively directing their attention to information that affirms what they believe or that reflects favorably upon them, and at forgetting information they wish were not true.
O artigo ressalta a marca dessa questão na nossa época…
We live in an unprecedented “age of information,” but we use very little of it. Dieters prefer not to look at the calories in their tasty dessert, people at high risk for disease avoid screenings and people choose the news source that aligns with their political ideology.
…mas a questão (entre outros lugares possíveis, é claro) aparece já em 1932, no livro Luz em Agosto, do escritor americano William Faulkner:
Com o tempo, a cidade esqueceu ou perdoou, por Hines ser velho e inofensivo, o que num jovem teria crucificado. Apenas diziam: “Eles são doidos; doidos na questão dos negros. Talvez sejam ianques”, e deixavam por isso mesmo. Ou talvez o que a cidade perdoasse não fosse a dedicação pessoal do homem à salvação das almas dos negros, mas o público ignorar do fato de que eles recebiam aquela caridade das mãos de negros, pois é próprio da mente descartar aquilo que a consciência se recusa a assimilar.
Assim, durante vinte e cinco anos, o velho casal não tivera nenhum meio de sustentação visível, a cidade fechando o olho coletivo para as mulheres negras e as panelas e pratos cobertos, em particular porque alguns pratos e panelas muito provavelmente haviam saído intactos das cozinhas dos brancos onde as mulheres cozinhavam. Talvez isso fosse uma parte do descarte mental. [p. 298; grifos nossos]
Os elementos importantes são a decisão de negar a absorção dos dados e a ideia de descarte, de jogar fora — trata-se de uma operação ativa, assim como o seu oposto.
É interessante como essa manutenção da ignorância é usada para estabilizar o grupo social (“fechando o olho coletivo”), que poderia ser abalado pela novidade. Alvin Toffler, em O Choque do Futuro, fala de como para conter a influência negativa de um ritmo acelerado de impressões, os indivíduos se aferram a “estilos de vida”, a identidades pré-definidas, que lhes dão filtros. Faulkner talvez retrate um momento primitivo do mesmo fenômeno.
Isso coloca em contexto a dificuldade do desafio apontado pela Carnegie Mellon:
“An implication of information avoidance is that we do not engage effectively with those who disagree with us,” said Hagmann, a Ph.D. student in the Department of Social and Decision Sciences. “Bombarding people with information that challenges their cherished beliefs — the usual strategy that people employ in attempts at persuasion – is more likely to engender defensive avoidance than receptive processing. If we want to reduce political polarization, we have to find ways not only to expose people to conflicting information, but to increase people’s receptivity to information that challenges what they believe and want to believe.”
Aumentar essa receptividade pode implicar em confrontar identidades arraigadas. Como tornar essas autodefinições sociais e individuais mais permeáveis?