Era uma época triste da minha vida. O trabalho passava por um mau momento. Eu me entediava soberanamente, eu, que nunca me entendiava antes. Saía com duas mulheres. Disso sim eu me lembro com clareza. Uma era, digamos, já veterana, da minha idade, e a outra quase uma menina. Mas às vezes pareciam duas velhas doentes e cheias de rancor, às vezes pareciam duas meninas que só gostavam de brincar. A diferença de idade não era tão grande para que eu as confundisse com mãe e filha, mas quase. Enfim, são coisas que um homem pode somente supor, nunca se sabe. O caso é que essas mulheres tinham dois cachorros, um grande e outro pequeno. (...)
Um dia, porém, os cachorros se perderam e sai à procura deles. Lembro de ter percorrido, armado apenas com uma lanterna, um bosque que ficava perto, e que espiei nos jardins de casas desabitadas. Não os encontrei em lugar nenhum. Quando voltei para casa as mulheres olharam para mim como se eu fosse responsável pelo desaparecimento dos cachorros. Disseram então um nome, o nome do assassino. Foram elas que o chamaram assim desde o início. Não acreditei nelas, mas ouvi tudo o que tinham a me dizer. As mulheres falaram de amores escolares, problemas econômicos, rancor acumulado. Não entrava na minha cabeça como puderam se relacionar na escola com um mesmo homem, dada a diferença de idade que existia entre elas. Entretanto, não quiseram me dizer mais nada. Naquela noite, apesar das recriminações, uma delas veio ao meu quarto. Não acendeu a luz, eu estava meio adormecido, no fim não soube quem era. Quando acordei, com as primeiras luzes da manhã, estava sozinho.