São cinco bancos, ela está na janela, eu na outra ponta, uma mulher no banco do meio, ela abre a bolsa e percebe que em vez do celular pegou o controle remoto. Seu modo de falar tem a sonoridade nordestina típica, sua pele é escura (não sei se por origem negra ou indígena). Ou sente vergonha ou acha engraçado, fica com um sorriso besta olhando em torno, eu reparo, não entendo o que ela fala ou se fala comigo, volto ao livro, ela começa a explicar para a que estava no meio. “Foi na carreira, na carreira. Agora como a menina vai fazer? Que ela dorme na sala, naquela cama que puxa. Ninguém vai acreditar: Mãe, você ficou doida?”. Disto passa a comentar que os filhos reclamam que ela não ficava muito em casa quando eram pequenos. “Eu estava trabalhando! Eu chegava às… não, eu chegava às quatro porque era o horário da creche. Perdi muito emprego bom porque tinha de sair cedo”. Fala-se alguma coisa sobre trabalhar como doméstica ou governanta, sobre períodos mais flexíveis, a outra mulher diz, “a patroa entende a gente, né?”. Nessa altura essa outra mulher se resigna ou se contenta e muda de banco, para ficar ao lado da primeira. “No domingo meus filhos não vão pra balada, essas coisas, porque eu nunca acostumei. Nunca botei cigarro dentro de casa, nunca botei bebida dentro de casa. Nenhum dos meus filhos nem bebe nem fuma, por isso toda noite eu rezo e choro: Obrigado, meu senhor, porque mesmo com a pobreza — eu sou pobre — nenhum dos meus filhos bebe ou fuma”. Conta depois, com alguma hesitação: “Eu fiquei… sem marido”. E por quê? “ Por causa da bebida. Da BE-BI-DA. Quando casou era bonzinho, depois veio colega, colega de bar, colega de bar, pronto. Eu sofri muito com ele, a família botou ele naqueles lugar, pra curar, não adiantou. É o que acaba, a bebida, o cigarro, essas coisas”.

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