A dualidade de certo ideograma chinês que diria ao mesmo tempo crise e oportunidade (uma interpretação do signo que se popularizou no Ocidente e, me avisa a Wikipedia, é incorreta) transparece em A Cidade Mágica, de Edith Nesbit:

— Muitos invasores?! — a resposta veio quase com desdém. — É exatamente esse o caso: nunca houve outro até agora. Você é o primeiro. Por anos e anos e anos tem havido essa guarda aqui, porque, quando a cidade foi construída, os astrólogos previram que algum dia viria um invasor que cometeria inenarráveis maldades. De modo que é o nosso privilégio, nós, os guardas polistopolitanos, vigiar o único caminho por onde um invasor poderia vir. (…)

— Não seria o caso — disse Philip — de vocês cortarem a ponta da escada; quero dizer, a ponta do lado de vocês? Assim ninguém subiria.

— Isso não poderia de forma alguma ser feito — disse o capitão — porque, veja, há outra profecia. O grande libertador virá por esse caminho.

A única e mesma fonte trará herói ou vilão, destruição ou libertação. Apenas quando o visitante chegar, com tudo a perder ou tudo a ganhar, com a catástrofe ou a graça já em movimento, é que poderão agir.

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